domingo, 15 de julho de 2007

"CORAGEM DE PENSAR FORA DA CAIXA"


Coragem para pensar fora da caixa.
Ricardo Gondim. www.ricardogondim.com.br

Os escritores norte-americanos Phillip Yancey, Ronald Sider, Rob Bell e Jim Wallis vêm afirmando que o movimento evangélico já não consegue responder satisfatoriamente aos desafios deste milênio.
Realmente. Na Europa pós-cristã, ele permanece periférico; nos Estados Unidos, foi absorvido pela religião civil do “Destino Manifesto” – que considera o país eleito e abençoado por Deus; na América Latina seu crescimento numérico o afasta do protestantismo clássico enquanto se condena a tornar-se uma religião popular sem práxis transformadora.
Considerando a obra de Thomas Kuhn sobre mudanças de paradigmas, “A estrutura das Revoluções Científicas”, dá para perceber como o movimento evangélico se esvazia. Para Kuhn, um paradigma enfraquece quando se torna incapaz de explicar algum fenômeno científico, mesmo que já tenha servido para nortear a pesquisa. Os paradigmas, depois de convincentemente desafiados por novas evidências, precisam sofrer mudanças.
Na tese de Kuhn, enquanto um paradigma se mostrar eficiente, as pesquisas e as descobertas são graduais e cumulativas. Porém, no instante em que as inovações deixam de ser absorvidas, as rupturas passam a ser bruscas; surgem pessoas que se atrevem a desafiar tanto os antigos conceitos quanto a noção do progresso gradual e constante do saber em direção à verdade.

Muito tem sido publicado procurando um diálogo da teologia com a historiografia, psicologia, física quântica, sociologia, antropologia e até arqueologia; novos pensadores evangélicos se revezam criticando alguns pressupostos. Segundo Kuhn, todos eles pagarão um alto preço por essa aventura; seguirão Galileu, que quase morreu quando descobriu que Júpiter tinha luas. Por derrubar a astronomia ptolomaica desacreditou também a teologia que acreditava num universo geocêntrico. A igreja defendeu seus dogmas e Galileu, para salvar a pele, precisou se retratar.

Os evangélicos tentam responder à atual crise de várias maneiras.

Com a resposta piedosa. Ressoam apelos de que os crentes precisam voltar a orar. Li no quadro de aviso de uma igreja uma convocação para que os crentes entrassem numa “maratona” de oração. O pastor queria promover um avivamento espiritual colocando sua congregação de joelhos. Vale perguntar se é preciso mais intercessão ou se não é hora de repensar o conteúdo das orações. Convivi entre os pentecostais por anos e posso afirmar, sem medo de errar, que multiplicar os “círculos de oração”; não resolverá o problema.

Com a resposta legalista. Avivalistas acusam, com dedo em riste, que “o mundo entrou na igreja”. Alguns acham que conseguirão anular o declínio ético propondo que “endurecereçamos” nos usos e costumes. Os jovens, principalmente, deveriam se arrepender do estilo de vida “carnal” que adotaram. Eles esquecem que o legalismo não tem valor nenhum contra a sensualidade e que impor tantas exigências acaba gerando mais hipocrisia.

Com a resposta ortodoxa. Já escutei líderes evangélicos afirmarem que carecemos de uma nova Reforma. Alguns buscam reavivar liturgias e paramentos de trezentos anos atrás. Os evangélicos realmente se distanciaram de várias doutrinas do protestantismo do século XVI. Contudo, seria ilusão pensar que um novo Lutero resgatará o movimento. Em um mundo globalizado, com tanta complexidade cultural, uma nova Reforma, semelhante àquela, jamais se repetirá.

Com a resposta organizacional. Principalmente os estadunidenses tentam manter suas igrejas pelo viés da administração eclesiástica. Eles acreditam que a fé voltará a ser relevante com uma liturgia mais “amigável”, com uma mensagem mais contemporânea, com bons estacionamentos e criando redes ministeriais.

Diante da crise, acredito ser preciso fazer um novo “dever de casa”; admitir que urge começar a pensar fora da antiga caixa e ter coragem de enfrentar novos desafios.

Para essa tarefa, proponho que a Graça volte a ser pedra principal da espiritualidade cristã e que o exercício teológico leve, até as ultimas conseqüências, o amor gratuito de Deus; que se enfatize que Ele não faz acepção de pessoas; que se reverta a tendência de transformar as igrejas em “Bingos” onde muitos buscam milagre e poucos recebem benção. Por último, é preciso aprender a pensar globalmente. Não é possível continuar apostando que Deus prospera os crentes que gostam de supérfluos e desprezar os miseráveis dos campos de refugiados africanos e das periferias urbanas brasileiras.

Junto com o enfraquecimento de um paradigma tanto existe o desafio para que saiamos do quadrado e demos um salto qualitativo, como a possibilidade de nos condenarmos ao anacronismo.
A decisão está em nossas mãos.

Soli Deo Gloria.

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